quarta-feira, 9 de junho de 2010

Os olhos do corvo

Aquilo acima deles não é céu. Aquilo embaixo deles não é terra. Essa gente ensandescida morre pouco a pouco, de frio ou de calor, de fome ou de gula, de amor ou de ódio. O ser humano é triste, engraçado, infantil... Não consigo ver neles nada além de carne semi-morta desfilando sobre esta massa de concreto e piche. Carcaças. Só o que são.
A primeira parte que gosto de comer-lhes é os olhos. Gosto de sentir o globo ocular estourando, vertendo seu nectar sangrento... Cuspo o cristalino. Praticamente tudo no ser humano tem uma parcela não aproveitável. Não só na sua carne, mas no seu espírito. Parece-me que a eles é agradável juntar inutilidades. A maior parte do tempo, gasto cuspindo fora partes que de nada servem, principalmente na alma desses macacos sem pêlos. Por isso, prefiro devorar as crianças. Elas tem cartilagens mais moles, assim como um espírito mais flexível, tenro, fácil de digerir.
É estranho vê-los inertes, apodrecendo. Passam a vida correndo, para depois acabar dentro dum caixão, ou atirados em qualquer lugar, esquecidos. No segundo caso, é quando ajo. Faço-lhes o favor de aproveitar o que nunca aproveitaram. Como-lhes a carne. Como-lhes a alma. Encontro meu prazer no passamento. Meu alimento. Minha vida na morte deles.


2 comentários:

Helena Fernandes disse...

eu adorei isso...
tu escreve MUITO!

Thaís disse...

Mas ah ein!
Esse ficou massa... Verdades sejam ditas! De forma crua.