quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

O vulto

Ele corria em desespero. "Ele vai me alcançar! Merda, MERDA!, ele vai me alcançar!". O suor escorria de cada poro, entrando em cada fenda e caía no asfalto. Olhava para trás enquanto suas pernas faziam um esforço sobre-humano para manter distância de seu perseguidor. O ar parecia rarefeito pelo esforço de respirar enquanto corria. A névoa era densa. A noite era tão escura que nem as luzes dos postes conseguiam iluminar tão bem a rua.
Em seu encalço, uma sombra, ainda mais escura que o breu da noite, parecia flutuar pouco acima do chão. Diferentemente de sua presa, parecia calma, quase como se estivesse apenas caminhando, sem esforço. O cheiro que exalava era de sangue e morte. Não tinha olhos, não tinha boca. Não enxergava, nem falava. Em compensação, respirava profundamente, como que farejando sua vítima.
O perseguido tropeçava nos próprios pés sempre que olhava para trás. Até que, numa mirada, a sombra desaparecera.Cuidadosamente, verificou os quatro cantos da rua. Não havia sinal de seu algoz em lugar algum. Por um momento, sentiu um patético alívio.
Foi quando, sem aviso, ele se vira completamente envolvido pelo vulto.


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