terça-feira, 15 de dezembro de 2009

E agora?

"Esta verdade trespassa meus olhos esbugalhados..."
"Acordo. Levanto. Fico sentado em minha cama. E agora? Ah, agora é um pé após o outro em direção ao banheiro. Tiro uma água do joelho, tomo um banho, me visto. E agora? Um pé após o outro, desta vez em direção à cozinha. Preparo um café, largo fritura em um pão francês. Parto. E agora? Pra onde? Pé ante pé, depressa para não perder a condução. Trabalho. Almoço. E agora? Mais trabalho. É meu ganha pão, minha condição, minha vida. Sem isto não faço nada. E agora? Final de expediente. Hora de ir embora. Não sou José, mas pra onde? E agora? Era pé ante pé, não era? Sinto-me tonto. Chego em casa... E agora? Abro a porta, dou de cara com a bagunça habitual, sento-me... Abro uma garrafa de whisky, ninguém é de ferro. O etílico elixir inebria cada célula. Fico dormente. E agora? Mais whisky. Vejo que não vivi nada o dia todo. É noite. Acendo um cigarro. A fumaça dança preguiçosa no ar, meus suspiros se escondem no monóxido de carbono, meus olhos piscam entorpecidos. Nenhuma lágrima. Só o vazio. É noite. A sala só é iluminada pelas luzes lá de fora. E agora? Que interrogação persistente. Levanto-me. Tropeço. Sinto o choque cruel de minha cabeça contra a quina da mesa de centro. Sangue... E, de repente, fica tudo claro. E agora? Como vou trabalhar? O que vão dizer aos meus parentes? E meus amigos? Eu queria ser alguém, mas não tinha vida. Que interrogação persistente. E agora? Isso tudo que fiz até hoje me tirou a vida..."
"Esta verdade trespassa meus olhos esbugalhados..."
"Mas eu tinha vida..."
"E agora...?"


Nenhum comentário: